Maresia


Vento torto que sopra de longe na janela, já vem distante e saindo, fica em dúvida se vai chegando ou partindo, se chorando ou rindo, sem dúvida e sem razão. Insistente, leva para onde quer que seja, com um desejo na vela e uma saudade na alma, com uma vontade de terra e uma vida na água. Carrega o tempo nos braços como um guardião apaixonado que não tem caminho a seguir nem destino marcado. Assopra na sombra sutil da noite, deslisando no lençol de breu cada segundo da hora, do dia, cada riso e alegria, cada lágrima e tristeza. Deixa aqui a beleza para partir para incerteza e se desfaz no toque da "belle" da costa, que se esconde entre a areia da praia e o quebra-mar. Nessa ventania, faz perder um beijo que some ligeiro pelos quatro cantos do oceano, lembrando apenas do encanto do canto, do toque no rosto e do suspirar. Perde-se em pedaços de nuvens e em pingos de tempestade, seja o que for, mas seja mais a vontade de voltar. Segue constante para o litoral e quando já cansado de alto mar, encontrará ali os lábios onde quer ficar.

Contra a Parede

Não tem senso, não sabe se permite deixar saborear o perigo intenso e se entrega, mas não existe tempo ou momento e sim a vontade no relento, nu na noite, entregue ao pensamento. Tateando o breu, encontra no silêncio a hora certa de retirar o ar e aspirar o sonho. Te joga contra parede e te prende os braços, enchendo a boca de beijos, vontades entregues a madrugada, que sentem a sua carne pulsar e o corpo arder. Desmancha a tinta, derrama desejo e a cada toque dos dedos, treme pelo querer, saboreia o suor e a saliva, se misturando no prazer. O olhar escorre como veneno, a verdade viva se faz voraz e nada mais se pensa, apenas se sente. A vontade tira a roupa, o calor brilha a pele e o corpo se entrega ao momento, ao perigo de fugir dos braços e cair em abraços sacanas, aquilo que vira mundos em dois tempos e sem perder tempo quer devorar cada pedaço inseguro do ser, do imaginar, do querer. Não se sabe o que acontece, nem o que vai acontecer, só quer mais, sabe que gosta e não quer esquecer. Pergunta baixinho quem sou e num sussurro respondo.

Recomeço



Vou recomeçar, com palavras sem intenção, sem saber para onde vão, olhando apenas lado a lado e para o leitor e nelas é possível se encontrar. Escrevo sobre a alma e seus desejos, seus sonhos e vontades, devaneios. Escondo os fatos reais e crio dentro de mim amores infantis, cheios de beleza e completamente fora do controle dessa realidade constante. Procuro algo que tenha defeitos e procuro nos segundos os desejos, em cada canto do rosto quero encontrar um novo lugar para um beijo. Perder essa vontade do certo, pular sem freio no mundo, viajar e ver novamente tudo e por uma vontade sem saber de onde, segurar sua mão como se juntasse corações. Ser feliz por inteiro, mas não a cada segundo, ver tudo mudar inconstantemente nos seus olhos e reações. Provar para o mundo que quando se ama pode se perder, que a vontade não é querer e que o querer não é sempre verdadeiro. Ir a fundo a cada motivo, por cada motivação e me tornar um ritmo para sua canção. No fim, quero ser livre e nessa liberdade encontrar a sua, quero minha vida toda tua e sem palavras te amar.

Sombras e Cinzas


A luz apaga e se apega na penumbra das palavras, deixando a solidão inesperada desfazendo o brilho, e dando lugar a noite nua. O canto do encanto se cala como grito sem voz, sem volta, sem nada, não é mais o que foi e o que era não era o que achava. Escuridão como o eterno movimento das ondas, trazendo e retraindo, surgindo e escondendo consigo a tão necessária claridade. Faz de escravo a saudade e sem motivação qualquer relembra a vontade, essa realidade criada em cinzas. O que resta no final a não ser pedaços queimados pelo passado, passando rápido e deixando nada a não ser risos sem sorrisos, choro sem lágrimas. Esses dias de sombra, levam consigo a lembrança criada, tantos planos e magoas, escolhas inacabadas e abraços esquecidos. Nova estrada surge, cheia de caminhos inesperados, marcada de novas cinzas e sombras, onde se é incapaz de ver a felicidade, mas impossível de se recusar a vontade de seguir e tentar novamente conquistar um lugar, uma verdade.

A Linha e A Canção


A canção, o som que envolve o peito e meio sem jeito consegue saber exatamente aonde tocar e como encantar. Doce ilusão, que busca o som na escuridão ao fechar os olhos e envolver a mente em cada nota crescente que lembra uma emoção. Momentos marcados no vento subindo e descendo entre o ar e o sonhar, descritos numa página sem palavras que conta rimando uma história, descreve um lugar ou relembra alguém que partiu no tempo sem mais voltar. Entre cada intenção existe uma linha, uma divisão, onde nem mesmo a mais bela canção pode alcançar. De um lado o caminho desbravado, no outro o desconhecido inesperado que numa indecisão foi descartado e agora apenas na imaginação ficará. Os dias chegam com novas linhas necessárias de se cruzar, onde decisões feitas, nunca perfeitas, sempre nos levam para algum lugar. A música toca lentamente se acanhando repentinamente em seu lugar e nela, a nota tem sua linha, a linha tem seu canto, o canto tem sua voz e seu momento de encantar. Uma hora a música para, é então  possível enxergar cada passo dado, o que foi negado, o que foi sonhado e tudo aquilo que foi dado antes da última nota no fim da linha chegar.

Fria Noite


O calor padece e ao seu fim desaparece cada sorriso do olhar. O peito cai com o pesar que se enche de magoa e ar, puxando em excesso o que não há. Desnecessárias flores mortas, que perfumam fúnebres os recantos úmidos da noite fria, essa fria noite vazia que rasteja até a hora marcada e ao alcançá-la se faz lembrar do que não se pode mais esperar. Nada mais é reconhecível, o entendimento do momento é impossível e a solidão, inegável. Surripiando cada resto de sentimento, a palavra voa ao vento, a lágrima seca entre a luz da lua gélida e as estrelas cadentes. Falta o tempo sem saber que tempo mais não há e tudo é entregue ao silêncio do medo. A mão procura a sombra para segurar, num gesto viciado pela falta que faz um simples movimento, um carinho que agora é relento um momento que não mais virá. Mesmo que o sol apareça e que raia com toda sua grandeza a noite fria irá ficar, mas sabe-se lá um dia quando sentimento virar lembrança a vida terá outra manhã e quando vier, a noite não será tão fria, trará consigo nova alegria terá então um carinho mais. Até então é preciso se aquecer na solidão e aprender que a vida não para nem mesmo quando para o coração.

Sobreposição

Emoções inspiradas pelos prazeres desejosos de sonhos irrealizados. Mistura de cores escuras que turvam as imagens um dia tão claras. Lágrimas pintam a paisagem alegre que preenchia os planos e planícies. A natureza se faz morta, decomposta e presente em cada traço traçado e cada respirar contido no vazio que não para. Falta a musa que carrega com sua presença a esperança de inspiração, o infinito céu e o profundo mar num simples olhar. A tela, apesar de colorida, não representa mais o que deveria, e agora é o real e o cruel desespero, o erro em pensar que um dia tudo poderia mudar. Estava no caminho certo até o pincel fugir da mão, perder o controle e a razão, a motivação de pintar a mais bela expressão de ser. Descartada fica a pintura, as escolhas de cores e contrastes, promessas e saudades. Tudo que se vê é o silêncio da tela branca, buscando nova esperança e desejando nunca mais ter de apagar. A tela encara o pincel, o pincel encara a tinta, a tinta encara o pintor e o pintor encara a vida que encara o sonho, onde tudo se sobrepõe num simples movimento de olhar e mudar do branco ao vivo, do nada para algo que não se sabe o que possa vir a ser.

Passagem


Acompanhado de milhares de pensamentos aparentemente desconexos estão os sentimentos mais diversos capazes de mudar as mais certas certezas. Muito se engana aquele que pensa nesse fato como fraqueza, pois é em sua verdade uma forma de adaptação e crescimento, se encher de emoção é conseguir entender quais reações devem ser tomadas e de qual forma reagir. Em meio a esse mundo intangível e emotivo, existem escolhas que alteram caminhos e mostram outros fazendo do velho o novo e surpreendendo no final. Exemplos avançados e versões melhoradas pelo viver, influencia do que existe ao redor e o que é procurado, a meta, o plano traçado. Colocam-se pontos certos e determinados no caos e eles se perdem num piscar de olhos. A vida não é uma escada ou estrada, não é somente feita na busca pela iluminação ou a fuga da danação, mas é uma oportunidade de ser mais do que uma história, contada sem demora numa lembrança passada. Ao escolher viver, mesmo que venha o futuro distante, o mesmo se cala e vislumbra a beleza da existência rara da importância clara do simples existir.

Lágrimas de Chuva


Refletido no fundo da alma esta a verdade ignorada pela racionalidade exacerbada, retendo cada desejo demasiado e levando consigo a vontade solitária. Solidão descarregada, faz do sentimento uma arma que esquece do tempo e da calma, querendo agora o que não pode ter por não saber onde conseguir. O então companheiro silêncio se torna tormenta e transforma tristeza em angústia. Cada lágrima caída percorre o rosto como uma carícia, vira gota de chuva no alto escondida, espera o momento que na sua decida, possa novamente tocar o rosto de onde um dia caia. Sem motivo algum, aquilo que em um momento consumia, agora se acaba no tempo, no vento e na chuva, numa palavra escondida que esperava momento oportuno para ser dita. Cada pedaço da vida quer ser vivida e se um dia não lembrar de viver, não é preciso se preocupar, a vida vive sem qualquer desventura. Não é somente no respirar, o bater do coração ou o fato de fazer e pensar, viver é saber o que se quer fazer antes de tudo acabar, entender que se um dia passa, outro também passará. Se no final não houveram sorrisos, amores perdidos e paixões irracionais de nada valeram as lágrimas que viram gotas, que viram chuva e que querem mais.

Incêndio Interno

Faíscas explodem no ar adocicado, cada palavra se torna combustível e é consumida pelas intenções da pele. As cores interagem num vermelho amarelado, queimando vivo o presente e todo seu sentimento ardente, querendo arrancar as amarras que lhe prende ao passado. O calor aumenta, turva a visão e derrete cada momento congelado pelo tempo isolado, pelos momentos esquecidos sem razão. As chamas cobrem a alma cauterizando as feridas deixadas por instantes pontuados de "não", negações que deixaram incertezas, tristezas que agora não provocam mais qualquer reação. Labaredas engrandecem como colunas ardentes que penetram os sonhos e iluminam escolhas, destinos escondidos pelo medo da queima agora são consumidos pelo incêndio interno do querer. Cada segundo vira brasa e a todo momento é possível sentir o coração ardendo no fogo de sua própria criação. Sem suplício, apenas o sentimento de liberdade sentido no encontro da chama com a dor, uma emancipação encontrada no lume da queimada interior, que faz do vazio da solidão material para nova combustão.

Pequenos Prazeres


Discorrendo sobre os deleites do dia é possível esquecer novidades e pular diretamente na rotina, assassina de vontades, sonhos de querer e fantasia. A água lava o rosto, a boca bebe o café, a mão segura a chave e lá se vai, a mais nova oportunidade de ter algo que não se sabe o que é. Ninguém é livre até saber o que quer e descobrir uma forma de alcançar, mas como tudo no mundo, para se ter o que sonha é preciso primeiro lutar, brigar, cansar e desesperar. Pensando nos dias que passam tão devagar, esquece que por mais tempo que chegue, mais vai passar e quando o fim finalmente chegar, podem dizer que foi um bom trabalhador, um pai ou mãe de família, um grande colega ou amigo fiel o que quer que seja, a verdade é que a vida vai embora e a morte fica. Pequenos prazeres são esses do viver, do querer sem querer, mas querer mesmo assim, dos momentos felizes tão facilmente esquecidos, dos dias dormidos, das noites insanas, dos sorrisos, beijos e desejos que desejam uma cama. Queira o sangue do vinho tinto, dos lábios macios e olhares de veneno, paralisando e demorado, se envolvendo em abraços de palavras e caricias. Normal é criado pela falta da fantasia, por ter medo de sentir aquele aperto que a tanto tempo queria. Mesmo que em prazeres pequenos possa encontrar alegria, se deixar que a rotina faça sua vida, perderá a oportunidade de mais um novo dia.

O Corpo Treme

Doce sabor tem o desejo, o querer do beijo a vontade da entrega e a saudade da boca de por um segundo ter de se separar, para um curto respirar e novamente voltar a descansar os lábios na ânsia da língua. O corpo treme a cada novo lugar que a mão toca, sentindo cada momento como uma troca de calor e prazer. O que fala mais alto é o uivo selvagem do querer, saboreando cada segundo sedento de suor e sussurrando indecentes verdades ao ouvido atento. Os olhos acompanham o movimento sequioso e impulsionam os corpos da carícia as chamas, do delicado ao silvestre. Todo o ser se emoldura num formato animal, cada músculo tensionado exala libidinoso o calor provocado pelo querer lascivo. Entrelaçadas as pernas e entre elas um ardor prazeroso provido do encontro entre o deleite libertino e a vontade natural. O momento intensifica e parece pairar no ar como uma pausa no tempo do mundo que dura alguns segundos e marca uma eternidade. No padecer do querer os corpos se desmancham entre as cobertas, pulsando e expandindo cada centímetro de pele suada na espera que a madrugada venha lhes banhar de novas vontades.

Lucida Insanidade


Cabeça vazia como o tempo lá fora, sem saber o momento de chegar e nem de ir embora, sem notar a noite fria e a manhã que não demora. Perdido em palavras divididas ao meio, desconexas do entendimento, a procura do completo, do perfeito, do momento aguardado ao dia inesperado ao fim do desespero. Nada a agradecer, pois o chegar do sol não traz o fim, mas um novo começo e entre as perguntas não respondidas e as verdades escondidas existem apenas questionamentos silenciosos e mentiras ensurdecedoras. Encostado no batente de uma rua sem nome, a espera de algo invisível que possa vir a levar pra longe o incerto e todas as suas variações é possível ver de perto o que é realidade para os que acreditam ser reais.  Loucos são os que não sentem, os que pensam no real como algo imutável e sentem medo do diferente pois parte da loucura é a lucidez e a insanidade, mesmo que momentânea é necessária para cada ser pensante existente. Para o descanso nobre, não é preciso cama pois como cobertor, se usa o carinho um dia recebido, noutro esquecido, mas por um momento eternizado, de travesseiro se faz a lembrança do abraço e de colchão se tem a paixão e cada beijo apaixonado.  

Na Noite de Uma Noite

O medo atrai, deixa o breu fascinante e receoso, trabalhando a imaginação num extremo inesperado. Os olhos fecham, absorvendo cada segundo do nada e preenchendo as ilusões do todo. Cores inexistentes, vivas nos vultos que ultrapassam sombras e tornam reais sonhos e pesadelos. O mundo se torna diferente e a cada pisar em falso, um novo passo é dado como criança, aguardando que o que não se conhece apareça. Idéias aparentam querer ser mais do que são e num ligeiro momento, esta tudo imperfeito, desconexo e desforme. Lembranças iniciam uma valsa de recordações querendo preencher o falso de cada espaço descolorido. No momento da entrega, o respirar aparenta ser tudo que há, o coração é ouvido e cada movimento tem uma luz própria, hipnótica e desforme. Nada mais do que a escuridão que rodeia e um silêncio macio que devora lentamente a calmaria. Insignificância do dia que vai chegar, se fazendo como relento de uma nova manhã do acordar, esquecido fica o tempo e no vento, um carinho beija a pele e apanha o cabelo entre dedos invisíveis. Conta a noite um conto infante, descarrega na consciência toda a tranquilidade desejada e se faz lembrar e esquecer num sonho da madrugada.

Em Braços, Abraços


Alegria, essa fantasia que um dia chega sorridente e em outro se esconde tão bem que não se encontra em lugar algum. Parece que se perde na solidão, na falta de segurar na mão, de deitar sem se preocupar com a ilusão do tempo e seu apressado passo. Pois que chegue então esse abraço tão esperado, me envolva em seus braços e entregue as certeza da natureza feliz já que tudo que tinha de fazer na solidão eu já fiz. Tira-me desse estado singular e me torna mais do que posso ser e além de onde posso chegar. Cada dia me machuca, deixa marcas que percorrem o meu olhar vazio, minhas ações rasas e mecânicas. Deixei a humanidade, sou imagem, um espelho de mim mesmo tateando uma superfície sem fim na busca do real. Minha meia vida, vivida sem saber como viver, vivendo a ver e não poder. Esperança, essa fantasia que chega sem avisar e em outro momento, explode como o sol do amanhecer. Nunca se perde por estar só, apenas espera com a certeza ingênua de existir. Alegre esperança, pois mesmo que faça falta e que cada minuto que passa o passado se cansa, tenho no fim uma certeza maior do que toda ilusão da solidão. Sou amado e sei amar, sou futuro e como todo o mesmo, vou chegar e não mais esperar.

Dia Sem Sol


A luz me aparece fraquejando entre as nuvens que escurecem o céu da manhã. Nasce um dia sem sol, acordando sem abrir os olhos, pedindo mais noite do que dia pode ter. Constante esse querer, que deixa vontade de dominar o tempo e negar o calor. O corpo parece cansar, esfriar, querer mais contato, esperar abraço e lembrar de beijos passados. Quer se envolver no sexo, transbordar de desejo numa mistura onde o que existe entre os dois corpos nus são apenas pingos de chuva e suor da pele. A tarde padece, o sol se esquece e novamente surge a lua, num dia sem dia vem a noite, trazendo sorridente uma vontade envolvente de ter mais o que envolver. Uma harmonia até novo padecer, onde em sonhos se vive e em saudades se deixa levar. Os dias mudam, alguns sem o brilho do sol, noutros falta a magia da lua, nada disso importa agora sem a boca tua. Ela que cala a boca e os sentidos, que envolve e preenche esse querer. Mesmo que a manhã chegue iluminada, não haverá luz sem essa chama que nunca apaga, que domina e arrasta tudo por onde passa e que em mim se faz de graça, dona do meu viver.

Passo a Passo


Num momento de distração qualquer, sem possibilidade de reação é possível sentir desarmar, desmantelar e desiludir. Deixa nua e fria a verdade, crua e simples a vontade de ter mais do que se pode, de querer mais do que se deve. Passa leve, sem notar ou querer ser notado, sem saber ou tentar ser entendido, passa sorrindo e deixando sorriso passageiro. Leva toda carência e atenção, sonho e aversão, leva tudo que pode levar, mas fica na sua passagem a solidão. Não se engana nem se arrepende, olha nos olhos e de repente, sem arrependimento aparente, esquece de todo sentimento eminente e segue em frente esperando ser passageiro ou passagem. Não esquece nada a não ser as lembranças, que perduram maduras pela felicidade dos momentos onde tudo parecia ser estático, natural e certo, imutável. Fica preso entre as chamas e o oceano e se torna imortal no pensamento que vaguei em busca da ventura aparente. Ilusões rapidamente desfeitas pelos atos do real. Passando se vai sem pressa, sem falsa modéstia ou qualquer cerimonial. Passa porque não é ali o seu lugar, não é onde quer chegar e sabe que tem de continuar.

Dia e Noite, Real e Fantasia.


Senta ali sozinha, olhando o horizonte e esperando um novo dia. Nada muito diferente do normal, todo dia parece nascer igual e novamente o sol aparece iluminando o banal. Mais um dia que passa e nada mais parece ser o queria que fosse, um beijo, um carinho o calor do corpo. Tanta limitação se encontra na solidão, indiferente ao tempo ou opinião. Deseja novos desejos, mas procura caminhos diferentes nas mesmas estradas, nos mesmos anseios.

Senta ali sozinha, olhando o horizonte e esperando uma nova noite. Onde não existe pudor, o carnal dita palavras doces, mesmo feitas de fel. Precisa destruir qualquer vestígio desse vício de querer o que faz mal e novamente se deixa levar, esperando diferença no usual. Tantos rostos os sentimentos usam, tantas vontades de saber sem lembrar ou conhecer, escondendo novas descobertas ou insistindo nas tortuosas escolhas erradas.

Senta ali sozinha, olhando nos olhos e esperando uma fantasia. Espera que esteja presente dia após dia, inerente a qualquer mudança, como o sol no amanhecer ou a lua e o anoitecer. Quer aquilo que sempre quis, mas também quer diferente, quer tudo de novo, mas nada novamente. Se perde em sonhos que carregam em si um dia após o outro, insatisfeitos, tenebrosos, indecisos e ilimitados.

Senta ali, mas não sozinha, olha pra quem se permitiu olhar e finalmente esquece a hora, o tempo, a noite e o dia. Tem a verdade que faz esquecer sonho, o real que desfaz fantasia, tudo que queria e não sabia. Deixa-se esquecer das dores, das marcas que dias e noites deixaram no sentir. O tempo é apenas parte da memória do que um dia foi e que nunca foi assim, longe da dor e do fim.

Desnudar


Arranca a certeza da pureza e deixa incerta essa labareda que consome cada canto do pensar. Despe os sentimentos mais insanos, que num simples olhar faz esquecer o respirar, tira o fôlego e a alma, deixa vazia toda outra forma de amar. Num simples passo, muda o mundo inteiro e na ausência, a carência transforma o desejo e faz da solidão lembrança ou desapego. Deixa cair a mortalha que cobre o passado e esconde a verdade por trás do querer num réquiem de adeus. Ela esconde dores, marcas e sabores, vontades de ter e tentar convencer que tudo aquilo era mais do que poderia um dia ser. Desnuda o que sente como que despindo a noite para um banho de estrelas e prazeres numa entrega ao caos da felicidade e as vontades da meia noite. Ações criadas do inesperado, do adiado ou mesmo reações do imaginário, nada disso importa a não ser o resultado. Procura a verdade desmascarada, mas ao encontrar realidade inesperada, pode querer novamente esconder o que poderia não ser mais nada. Vítimas dos impulsos da vida, da madrugada infinita e da vontade de sentir, desnuda desilusão de paixão e aguarda novo amanhecer no horizonte surgir.

Momentos Passageiros


Deita no parque ao lado de casa, pensando em saudades e desenhos em nuvens, imaginando desejos chuvosos e vontades sem culpa, ficava então na grama, que espeta e reclama do abuso do corpo. Pensamento de desgosto de querer acanhar, querendo um calor de pele, um beijo igualmente sonhador, pairando no vento enquanto aguarda o tempo. As formas mudam novamente, de um cavalo selvagem para um dinossauro sem dente, parece uma eternidade sem fim ou motivação inerente, o tempo muda e o céu acompanha, outra vez, novamente. Saudade sentida sem saber, envolvida sem querer e removida pelo gosto de ter. Olhando para o azul infinito, o sonho que nunca pareceu querido, vive dentro de todo lugar. Preenche a mente e a alma, passa pelo coração e tira uma batida e na barriga deixa um borbulhar de asas. Sem querer, pensando em nada, para e pensa no futuro, sem saber do final ou querer entender as razões. No meio de tantos sentimentos e tantas emoções, deita olhando para o passar dos desenhos, de futuros incertos e de certos momentos os quais aguarda atento até que sejam reais.
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