O Corpo Treme

Doce sabor tem o desejo, o querer do beijo a vontade da entrega e a saudade da boca de por um segundo ter de se separar, para um curto respirar e novamente voltar a descansar os lábios na ânsia da língua. O corpo treme a cada novo lugar que a mão toca, sentindo cada momento como uma troca de calor e prazer. O que fala mais alto é o uivo selvagem do querer, saboreando cada segundo sedento de suor e sussurrando indecentes verdades ao ouvido atento. Os olhos acompanham o movimento sequioso e impulsionam os corpos da carícia as chamas, do delicado ao silvestre. Todo o ser se emoldura num formato animal, cada músculo tensionado exala libidinoso o calor provocado pelo querer lascivo. Entrelaçadas as pernas e entre elas um ardor prazeroso provido do encontro entre o deleite libertino e a vontade natural. O momento intensifica e parece pairar no ar como uma pausa no tempo do mundo que dura alguns segundos e marca uma eternidade. No padecer do querer os corpos se desmancham entre as cobertas, pulsando e expandindo cada centímetro de pele suada na espera que a madrugada venha lhes banhar de novas vontades.

Lucida Insanidade


Cabeça vazia como o tempo lá fora, sem saber o momento de chegar e nem de ir embora, sem notar a noite fria e a manhã que não demora. Perdido em palavras divididas ao meio, desconexas do entendimento, a procura do completo, do perfeito, do momento aguardado ao dia inesperado ao fim do desespero. Nada a agradecer, pois o chegar do sol não traz o fim, mas um novo começo e entre as perguntas não respondidas e as verdades escondidas existem apenas questionamentos silenciosos e mentiras ensurdecedoras. Encostado no batente de uma rua sem nome, a espera de algo invisível que possa vir a levar pra longe o incerto e todas as suas variações é possível ver de perto o que é realidade para os que acreditam ser reais.  Loucos são os que não sentem, os que pensam no real como algo imutável e sentem medo do diferente pois parte da loucura é a lucidez e a insanidade, mesmo que momentânea é necessária para cada ser pensante existente. Para o descanso nobre, não é preciso cama pois como cobertor, se usa o carinho um dia recebido, noutro esquecido, mas por um momento eternizado, de travesseiro se faz a lembrança do abraço e de colchão se tem a paixão e cada beijo apaixonado.  

Na Noite de Uma Noite

O medo atrai, deixa o breu fascinante e receoso, trabalhando a imaginação num extremo inesperado. Os olhos fecham, absorvendo cada segundo do nada e preenchendo as ilusões do todo. Cores inexistentes, vivas nos vultos que ultrapassam sombras e tornam reais sonhos e pesadelos. O mundo se torna diferente e a cada pisar em falso, um novo passo é dado como criança, aguardando que o que não se conhece apareça. Idéias aparentam querer ser mais do que são e num ligeiro momento, esta tudo imperfeito, desconexo e desforme. Lembranças iniciam uma valsa de recordações querendo preencher o falso de cada espaço descolorido. No momento da entrega, o respirar aparenta ser tudo que há, o coração é ouvido e cada movimento tem uma luz própria, hipnótica e desforme. Nada mais do que a escuridão que rodeia e um silêncio macio que devora lentamente a calmaria. Insignificância do dia que vai chegar, se fazendo como relento de uma nova manhã do acordar, esquecido fica o tempo e no vento, um carinho beija a pele e apanha o cabelo entre dedos invisíveis. Conta a noite um conto infante, descarrega na consciência toda a tranquilidade desejada e se faz lembrar e esquecer num sonho da madrugada.

Em Braços, Abraços


Alegria, essa fantasia que um dia chega sorridente e em outro se esconde tão bem que não se encontra em lugar algum. Parece que se perde na solidão, na falta de segurar na mão, de deitar sem se preocupar com a ilusão do tempo e seu apressado passo. Pois que chegue então esse abraço tão esperado, me envolva em seus braços e entregue as certeza da natureza feliz já que tudo que tinha de fazer na solidão eu já fiz. Tira-me desse estado singular e me torna mais do que posso ser e além de onde posso chegar. Cada dia me machuca, deixa marcas que percorrem o meu olhar vazio, minhas ações rasas e mecânicas. Deixei a humanidade, sou imagem, um espelho de mim mesmo tateando uma superfície sem fim na busca do real. Minha meia vida, vivida sem saber como viver, vivendo a ver e não poder. Esperança, essa fantasia que chega sem avisar e em outro momento, explode como o sol do amanhecer. Nunca se perde por estar só, apenas espera com a certeza ingênua de existir. Alegre esperança, pois mesmo que faça falta e que cada minuto que passa o passado se cansa, tenho no fim uma certeza maior do que toda ilusão da solidão. Sou amado e sei amar, sou futuro e como todo o mesmo, vou chegar e não mais esperar.
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