Sonhadeiro e Desejadeiro

Devo dizer que até então, tenho atentado ao emaranhado de palavras soltas no decorrer de apreços e considerações. Talvez, por ser farto de emoções infaustas, transpareço as minhas intenções de forma prolixa, o que acaba refreando aqueles de meu maior apreço a perceber meus reais desígnios. Buscarei formas mais diretas de me expressar, sem que venham a surgir indagações interrogativas a respeito das minhas líricas. Apesar de tal declaração, espero a compreensão de todos aos quais indago que observem tal leitura como forma abstrata. Como devaneio, declamo assim em tela branca, cada anseio e evento que me transpassa a alma. Tal desejo contemplativo não evolui do simples pensar, mas é cedido como parte declamada da alma. De onde surgem os “sonhadeiros” e “desejadeiros” dos nossos viveres. O sentimento é meu nectário. Vivo dos seus exageros.

Mundo Em Mim


Acordo sem meus sentidos. Céu cinzento, anunciando possibilidades entre o café e o jornal da matina. Quando consigo falar, “Bom dia” e então sento. Minha tela branca satisfaz incredulidades formuladas por uma madrugada curta e um desejo longo. Proponho então palavras de contextos semelhantes. Falando de possibilidades e definições insolúveis. Regras ditadas por amigos e eternos preocupados não me cabem nas horas de pensar. Descrevo esquinas e desencontros, escolhas e desvios. Alheio, mesmo que aos fatos, dispersos as regalias da veracidade da vida. Escolho sempre o caminho menos trilhado. Capinando a pés nus um espaço só meu. Dou chances as improbabilidades desse mundo em mim.

Consequências

A luz dispersa. Porta escancarada, agora entreaberta. Espera pela esperança e desespera. E você ouve. Assobio da ventania grita para adentrar. Nada mais resta nessa lembrança. Risos debaixo do lençol, carinhos na cama, desejo de beijo e duas mentes insanamente naturais, quase iguais. O passado apaga o passado que se apaga. Dentre tudo que resta, uma fresta. Um chamejar de vida. Uma simples conversa e um olhar distraído, no meio do que foi destruído. Retirando escombros retorcidos de palavras vazias e egoístas. Individualistas na nossa coletividade. Estranhos artistas de rua, numa valsa eterna à luz pública. Então deixamos de lado as conseqüências do nosso ato. Seguimos com os mesmos e aguardamos aplausos. Mais nada há para se aplaudir. Tudo passou, é lembrança. Abrigo de chuva ou da noite desocupada. E lembramos-nos de quando tudo se acomodava. Inconseqüentes, sem nada.

Pirofagia

Grito ecoa ao amanhecer. Hoje verei o dia nascer. Encostar-me-ei próximo a janela e gritarei desonras. Desmerecerei todos os elogios de "bom moço". Quero ver o mundo pegar fogo. Livrar-me do estigma de rapaz decente. Ver a noite cair por sobre um horizonte em chamas. Fúria sem controle, motivada pela falta que sinto e a vontade que tenho. Queimar o mundo como um sol intenso. Deixar-me consumir por múltipla insanidade. Uma palavra e simplesmente faço. Não quero mais. Levar o mundo a cinzas. Sentir o ardor da brasa. O cintilar das chamas a subir, brilhantes como estrelas flambadas. Adentro inferno e toda sua sedução ilusória. Cerco-me da piromania expelida da ira. Engolfado, largado e incinerado, dentre escórias e vergonhas. Paciência para renascer. Esperança! Me ergue! Inspiração eleva. Imaginação, em suas asas rubras trás uma nova manhã.

Horizonte

Seu Céu Limpo...


Suavemente tangido por sutis pinceladas rubras. Deita sobre meu mar. Preenche a vista por completo, me faz de espelho. Passa o dia enrolada em minhas ondas. Cheia de sede e de sol. As noites, perdidos, somos um. Rindo das estrelas a brilhar nossos corpos. Lua que brinca de ilusões. Acorda e desliza seus braços em mim. Num dengo sem fim. Por todo o mundo. E me beija com mil raios sorridos, de azul e branco. Amanhecendo em meus abraços. No horizonte sem fim.


Minhas Cartas de Marear...

Atiro mil ondas. Lanço-me em rochedos. Jogo tudo para todos os lados. Tentando te puxar através desse horizonte. De nada vale a imensidão do meu alcance, se não tenho como te alcançar. Brilho intenso com teu sol. Seduzo com o teu luar. Banho-me de suas chuvas e raios. Mas nada mais do que abraços, posso dar. Será minha vista eterna, dormir e acordar. Na calma e fúria. Na praia nua. Em alto mar.

Entre Céu e Mar

Desgasto esperanças. Imagens lúgubres atormentam o pensar. Derrubam contos e prosas. Destroem sonhos e rosas. Por fim, ergo-me, assistindo então o horizonte. Seu final dourado e seu começo sombrio. Atiro sentimentos como pedras. Jogo-as no mar. Quicando pela superfície uma, duas... três vezes. Entregues aos constantes movimentos dos seus pensamentos. Quem sabe trazem de volta essas pedras sentimentais. Olho para o seu mar, para o meu céu, para o nosso horizonte e me sento, contemplando.

Sabe Demais

Senta... Vamos conversar... Me deixa em trevas, sem respirar. Faz carinho escondido, que me enche de dor. Fica de todos os lados, com todas as cores. E me olha sem querer prestar atenção, mas já dando importância aos pormenores de qualquer momento. Não... Não entendo... E sinto raiva e grito com a noite, por não saber nunca, como gritar com você. E me jogo em feridas abertas e becos sem saída. Sim... Não... Nunca... A demora nas idéias, os sonhos sem regras e o mundo a gritar. Ao meu redor, em uni som. Esquece, deixa para lá, faz da vida o que tu pode, deixar de sonhar. E se um dia o mundo mudasse? E se tudo pudesse virar? E se fosse tudo diferente? "Eu gosto muito de você... Mesmo..."

Espetáculo

Imagem: Igor Capibaribe

Deixa-me em seus cabelos. Morando em cada melodia. Seguindo os passos, teatros e cadafalsos. Mulher fantasia. Um passo é repassado para cada passo que seguia. Vivendo, estou nessa cantoria, sem agudo nem grave, sem harmonia. Rodando para a platéia, incompreendido. Do alto as luzes mergulhão ao redor. Giro em palco italiano, distante das ovações e flores. Sigo a risca as riscas no chão, mas nada mais. Um palco vazio, cheio de luz, mas sem pulsação. Paro amparado pelo tempo e nada acerto. Nem verdade, rancor ou solidão. Sigo o caminho demarcado, até a última marcação. Agradeço os aplausos, a atenção. Deixando por mais uma noite, toda aquela encenação. Dou as costas para o palco e toda sua ilusão. A porta bate, no fim é tarde, luzes a se apagar. Cortina fecha, sem que se veja, toda aquela alegoria. Próxima noite, mais uma sorte, nova ária, de diferente sinfonia.

Deveria Saber

Sem que soubesse das formas curvas e dos olhos castanhos. Nem notado o sorriso e as expressões cintilantes. Simplesmente me veio assim. Como catástrofe, pandemia, total destruição. Sabe, depois que acaba, vem a reconstrução. Tudo voltando a passos miúdos, catando destroços pelo chão. Álbuns de família, livros e diários, corpos e saudades. O que parece impossível, vira improvável antes de plausível até chegar ao certo. Reconstrução do futuro não é deserto, mas cheio de incertezas. E já se foram anos, ou meses, ou dias. Não importa o quanto dura dar cada passo, pedra, telha, mas sim o desejo da construção. Deveria saber onde construir, dedicar e prosseguir. Deixar que todo o entulho transforme-se numa lembrança do que aconteceu, um monumento ao que nunca mais será. Não deixo de saber por errar, mas não deixo de errar sabendo. E ao longe, já vejo, antes mesmo do desejo, escuto a correria.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Blogger Templates by Blog Forum

http://meublogtemconteudo.blogspot.com/