Meio Sorriso

A profusão das minhas palavras não se iguala ao sentido do seu meio sorriso. Perante tal silenciosa discussão envolvendo pequenos momentos e detalhes, acabo por abarcar o curioso e o sensitivo, questionando o imperativo num todo minimalista. Deixa-me tentando entender o gosto amargo dos olhares indecisos e impetrantes, direcionados as minhas palavras. Entre grosserias e choros latentes, nada me faz entender essa mente que me pragueja e no mesmo momento, anseia. O rubro do seu rosto me atrai a pele, faz querer perfurar cada instante do seu corpo com a vontade de te possuir. Juntar-te a escravidão dessa desejosa excitação. Olhar nos seus olhos lacrimejados e fazê-los sorrir. Preencher cada vazio deixado pelo caminho. No seu rosto, ver florescer um riso, mesmo que tímido e sem jeito. Tendo isso feito, posso enfim acordar.

(Revisado)

Quem é Ela?

Não tem nome nem cor. Olhos e cabelos de arco-íris e seu rosto nunca é o mesmo. Às vezes começa com "A" e termina com "Z", outros dias, nem começa. Ela é sentimento puro, de sentir pele e cheiro. Um sonho distante em cama estranha. É um desejo. Cada batida no meu peito. A saudade que rasga todo protocolo e se entrega a falta. Uma esperança em forma de sorriso ou lágrima. Quem quer que eu queira, ela é. Noite do dia, maré, chuva e sol. Ofusca ou apaga. Pode ser anjo, ou razão da perdição. Livre, mas cativa do meu coração. Pode ser real ou ilusão. Ser vontade ou certeza. Ela não é nada do que parece ser, mas tudo em um só lugar. Cheia de carinho, me abraça feito mãe. Toda fogosa, me beija rasgando a boca. Ela é toda em tudo do todo de tudo. Ela é minha tinta, minha tela, meu vocábulo, minha gramática, minha excitação. No seu silêncio, no seu vazio, na minha alma ela é inspiração.

Estranhos Íntimos

Nada de orgulho. O tempo passou e simplesmente nada mais existe. Algumas palavras distantes de momentos passados e retratados nas trocas de olhares de um lado para o outro daquele qualquer lugar. Lembranças disfarçadas de pequenos intervalos, sorrisos ou gestos. Essa certeza da distância muda um para o outro. Gostávamos sim, mas não somos os mesmos. Não somos mais a resposta, somos o atraso: “Deixa isso de lado e esquece. Já esta na hora”. As feridas que causamos, cauterizam. As mentiras que contamos são esquecidas. Somos duas pessoas, de dois lados opostos, olhando lembranças de longe e sendo educados. Estátuas da felicidade, que apenas nos levam a dias anteriores. Impossível esquecer a intimidade sem arrancar com crueldade um pedaço de si. Apesar disso é possível não falar, nem tocar ou brincar. Somos estranhos íntimos, sem saber o que dizer.

Algo a Dizer

Pulando nas poças de água, espalhadas pelas ruas dessa cidade cinza de três horas da tarde. Sempre com algo para dizer e sem motivos para falar. Saltos pequenos, outros gigantescos, espalhando para todos os lados algumas dessas idéias, tentadas a serem vocalizadas. Mas cada um sabe a poça em que pula, algumas são pequenas e brincalhonas, outras nos afundam e ficamos presos e conformados. Vou então saltando seguro, dançante e sem me importar com as calças molhadas até o joelho, tive vontade, sem me importar. Penso como essa tela branca, esperando um momento oportuno para se encher de vida e sabor. Para que guarda-chuva, se nesse lugar, morro de calor? Não sou obrigado ao conformismo, mesmo que este não venha da maioria. Sou o que vem de mim. Sou tinta.

Nublado

Todos esses sentimentos nublados. Quando a manhã não é dia nem tarde e simplesmente nubla. Linda essa palavra. Apesar de sua conotação negativa, possui beleza díspar de um dia do passado; ontem o que era sol, hoje esta nublado. Pequenos momentos de luz atravessando as nuvens, acendendo a chuva, anubliando a razão. Sinto-me descansado, sentindo de leve o vento e esquecendo o tempo, num daqueles momentos raros de se olhar para o nada no teto do quarto. Esse dia sem dia me deixa em pedaços, fantasias e vontades. Inclino minha cabeça pela janela, com o rosto virado para o céu, acariciado. Volto aos poucos para o momento real, hesitando deixar para trás os segundos, mas passou.

Maré Alta


Sonhei com maré alta, atravessando ruas e avenidas. Chegava até meus pés, tocava-os levemente e simplesmente voltava, sem aviso ou cerimônia. Se foi sem perguntas ou respostas, lembranças ou declarações imensas de um amor profundo. Ao redor, todos banhados da água do mar, se perguntavam como até ali foi chegar. Falei que foi saudade, mas ninguém ouviu, disse que era carinho e fui ignorado. Então segui por caminho molhado e cheguei até o mar, cercado por areia branca, com o sol a banhar. Fui até a beirada te beijar, ver sorrir essa falta que não me largava. Mas como maré alta, começou a se afastar, mais uma vez fico de longe a te enxergar, se movendo pela lua e o vento. Observando horizonte, sento e escrevo, sobre o sonho da maré alta e a saudade que me causa.

Lembranças Mudas


São palavras não ditas. Aqueles detalhes parados no ar antes de qualquer impulso. Silenciadas pelo momento indefinido. Deveriam ser as palavras de mais fácil esquecimento, mas levitam na mente como lembranças mudas. Ouvido não sabe, mas coração aperta e procura no vazio a propagação do sentimento escondido. Detalhes, dentre tantos, revirados e transformados em pequenas cores, tentam explicar o que significam sorrisos e lágrimas. Hesitações e nervosismos, dúvidas e questionamentos. Todas ditas em silêncio, com medo de se entregar. Jogados em linhas retas, estornadas pela vontade de explodir em cada pensamento não formulado. Mesmo em meio a palavras ásperas, cercadas de angústia e raiva, tentam falar de amor e esperança. E no fim da dança, com a música silenciando os passos e corações, se ouve o que não é dito e se sente o que não se pode falar. Não existem palavras, mas detalhes entregues ao momento.

O Dia Mais Claro

O dia clareia se debatendo entre os corredores do apartamento. Vizinho bem vindo depois do alento matutino. Hoje não tem tristeza, entre o coração e a certeza, dou preferência ao dia que acorda vibrando com a manhã. E mesmo um dia claro precisa da noite escura. Onde sonho existe e persiste, esperando o amanhecer, em busca da realização. Sou novo dia, acordando companhia, respirando maresia, vivendo de baixo para cima, para o alto do caminho, além do nublado, de encontro com os raios de sol. Abro as asas flamejantes num ganir incessante, recheado de provações. Sobrevivi às inflamações que me cercavam para novamente observar com novos olhos esses dias mais claros que estão por vir.
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