Fazendo Palavras


Como palavra virgem, nascida de um lugar sem explicação, criada de um sentimento sem aparência e de impossível percepção. Como se faz difícil de aparecer, de controlar e conter de querer e não poder. Desejoso como nenhuma outra palavra, quer não só o corpo, mas a alma, não quer só um beijo, quer que todos os outros sejam esquecidos. Egoísta por natureza e naturalmente protetor, tem na palavra a beleza e a dor. Em todos nós temos um pedaço, que junto com outro faz o começo, o meio e o fim. É e faz vida, parte de uma família ou uma grande estória nunca esquecida. Começa guerras e gera glórias, faz crianças dormirem e acordar o mais profundo sonhar. Tanto usada, nunca entendida nem mal interpretada, pode sair às vezes falsa, querendo criar ilusões. Mesmo sendo difícil, parecendo até impossível, acontece sem perceber. Uma verdade que estava escondida ou que não queria se ver, uma razão para que nada mais seja razão de nada, mas um mais do que qualquer outro querer. A junção de todas as emoções, canções e sonhos, poesias e tentações. Esse sentimento que mora na alma, dividida até encontrar a outra parte que lhe faltava, faz do abstrato uma verdade quase palpável, faz sentido, faz palavra.

Chances


Passaram-se anos, como se o tempo fosse irrelevante e a vida, um instante. Não temos apenas um momento na vida, mas vários e constantes. Escravos das chances que temos e perdemos, aproveitamos ou negamos, encontramos ou perdemos. Os olhos não enxergam a necessidade da alma, a razão para o coração querer pular fora do corpo e correr para um abraço, o próprio existir da pessoa já faz com que o necessário apareça e se faça presente como se sempre estivesse lá. O verdadeiro sentimento não esta apenas nos detalhes, mas nos grandes gestos que movem montanhas e são feitos sem o menor esforço, vergonha ou preconceito. Não encontramos a pureza do sentir apenas no desejo, no beijo ou no prazer, esta no crescer e aprender, no passar e tocar acidentalmente com o proposito de sentir aquele calor necessário e a segurança de que estará sempre presente. Passa o ano, novo ano chega, aprender com o tempo faz parte de toda natureza, mais um dia que passa, para que nova noite apareça e simples assim o ano acaba, dando a luz a outro ano que chega. Feliz 2012!

Singularidade do Querer


O gosto perpetua-se na língua desejosa, não deixa pausa para o pensar racionalizar, não tem tempo, só ânsia. Despeja toda carência num olhar e pede carinhosamente a entrega de todas as formas de sentir outro alguém. É a doce solidão, que tortura com o sal da saudade e mata de sede a vontade de devorar e ser devorado. Aqui ao lado faz aparentar ser tão distante, mostra tantos motivos para se afastar e tantas razões para se ter ao lado, nada muda esse querer constante. Em silêncio, o que se quer fala mais alto e o canto do quarto se faz apertado, comprimido, afogado no vazio. Nas dúvidas e palavras, feito frase é como navalha, cria fantasias e ilusões do que não se pode mais voltar atrás. Mesmo assim quer reinventar o beijo, inovar o desejo e revolucionar o prazer, quer o que mais nenhum pode ter, tornar sagrado o carnal e o natural em singularidade. O querer se faz presente quando a ausência supera a busca pela felicidade, o momento se congela pela necessidade e o coração tem vontade própria. Se encontrar o que se quer fosse fácil, seria duvidoso, se fosse lento, seria chato e se fosse rápido demais, seria apenas lembrança de algo a algum tempo atrás.

Até Você Entrar No Quarto


O Olhar vagaroso repousa sobre a porta entreaberta do quarto, vazio pela falta que faz a presença esperada. Mesmo repousada, a cabeça inquieta não para e imagina todas as possibilidades da entrega. Deseja o desejo e espera o inesperado para que tudo faça parte da realidade. Quer sentir o sonho em que se perde toda vez que cai no sono. Ajeita o corpo na cama, procurando a melhor forma de esperar, morde o travesseiro em antecipação, se levanta querendo beijar, mas fala pra si mesmo para se acalmar. Pergunta os motivos para tanta antecipação sem saber que o irracional não tem palavras para explicar essa fome. A respiração pesa, o tempo pesa, a noite pesa e não sabe mais como pode aguentar. Não existe outro pensamento, nada aconteceu na vida até esse momento, não lembra de ninguém, muito menos da solidão constante. O racional largou do volante e agora só existe o querer, o animal de dentro que tomou conta e quer uivar, correr, pular e atacar, morder e lamber, provar e se libertar. A pele começa a formigar, quer sentir o calor do embaraço, do suor provocado e de tudo aquilo que pode ser tocado. É assim até você entrar no quarto. Nesse momento sagrado, mesmo com todo o desejo ainda aflorado, não tenho como olhar para os lados. O mundo se perde aos seus pés e evapora nos seus olhos.

Novo Céu Passageiro

Acorda com uma chance de viver, uma oportunidade de respirar e seguir com um passo atrás do outro. Passa nuvem na distância, sem saudações ou demoras, olhando de cima para baixo toda essa história, sem saber exatamente como contar. Nesses segundos que passam, as mudanças abraçam cada respirar, muitas vezes carinhosa como uma brisa do mar, noutras não consegue puxar o ar. O passageiro que desperta não nota fragilidade nem deve, não foi feito para se preocupar, viver não significa se preparar para quando o fim chegar. A vida é mais do que um simples respirar, não menos do que um beijo ou um afetuoso olhar e vai além do desejo de provar. Saber viver é querer, negar e aceitar, entregar e tomar, sorrir e chorar. Caminhar sem pensar no tropeço, gastar sem se preocupar com o preço, caminhar no seco esperando a chuva, olhar nos olhos enquanto sente prazer. Variadas são as versões de viver, mas não são ações que definem, nem um novo céu passageiro, o que define cada momento é a casualidade da existência, a fragilidade da perseverança e o abrir dos olhos ao acordar.
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