Encruzilhada

Vagando pelos indecisos caminhos traçados nas luzes que brilham e nas ruas que falam, descalço pela dureza e natureza da noite, encontro solitário. Em retalhos, as horas passam enfileiradas penetrando feito agulhas numa esperança qualquer. Esquecidas estão as passagens que desafiam viagens escondidas no desapontamento. Entendo agora o que se encontra no vale das sombras, onde o fim que tanto evitamos conhecer, pode ser visto observando tudo e aguardando a todos. Não é nada novo, mas a novidade que esta sempre alinhada com o que não temos e não sabemos onde encontrar. Seres humanos, encontrados cruzando a longa passagem do tempo e da vida, aguardando que curem as suas feridas e nunca entendendo onde realmente procuram. Então num momento espontâneo, fecha os olhos e gira, bem no meio de uma dessas encruzilhadas. Sem saber exatamente de onde veio ou para onde vai, para e repara que não sabe realmente de nada e que o melhor a se fazer é simplesmente continuar a caminhar, podendo muito bem estar voltando para o mesmo lugar, mas tentando algo diferente para não saber onde chegar. Entregue esta a vida para os caminhos sem razão, fechados pela indecisão. Um dia na encruzilhada, feche os olhos e não abra, rode até onde não mais aguentar e de lá deverá partir, para qualquer lugar.

Sede


Sentir sede do sentimento sem freio, despejando dentro do desejo cada carinho acumulado em mim. Seria saudade solitária, demorada e denegrida ao canto da canção, se não fosse essa tão vontade desejosa de paixão. Varia cada cor da sinfonia, das letras formadas e da sua magia, acordadas enfim. Brilha como fogos de ano novo, celebrando vida nova dentro do que parecia chegar ao fim. Surge a esperança sem saber que era esperada, aguardada como salvadora de quaisquer das mágoas encontradas no frio da solidão. Adentra essa face envolvida em penumbra, desatenta e escondida pela visão e permissão de ser vista. De súbito, surge desimpedida, livre das lamúrias de um caminho tortuoso, envolvendo em cada passo, a dor do descaso. Possível então seria o improvável, mesmo porque o impossível não existe mais. Entre todas as fantasticas histórias, entra então uma mais, aquela que une até os pontos cardeais, ignorando a distância e sua ignorância. Deixa-se levar em um balão assoprado de palavras amorosas e suspiros pensados por encontros imaginados. Tão certo quanto a lua que cai para novo sol levantar, como o céu, tão namorador do mar, esta essa vontade de nunca mais estar em qualquer outro lugar.

Colisões

Parece chegar lentamente, esse movimento incessante de sentimento ardente e envolvente, devorando cada momento, inconseqüente e inconstante. O dia começa como todos os outros que passam e chegam se descriminar, mas sem que queira saber da razão, quase que distraido, encontramos um motivo para desejar. Seguimos sem mesmo entender a força que puxa tal vontade e cresce de tamanha forma. Muda a cor das fantasias, os motivos de alegria e a vontade de nunca parar de sorrir. Esperança na mais pura das formas, encontra com quem de mãos dadas, possa fugir do real e sonhar vidas diversas. Nesse ponto de colisão, entre o irreal e a razão, se encontram os pedaços do romance a muito esquecido e a vontade da entrega por muito tempo negada. Promessas ajoelhadas e perante aos céus juradas, de que valem as palavras sem que nelas seja encontrada a certeza e nada mais. Duvidas pairam a mente humana em cada decisão, sem a menor exclusão ou sentimento qualquer. Incertos por levar-mos vidas impossíveis de serem previstas e desejadas pela involuntária motivação da felicidade e suas diversas formas. Frutos das adversidades, procuramos rumar numa direção e encontrar nosso ponto de impacto.

Sorrisos Privados


Existe um lugar, além desse que se pode ver, escondido nos lábios do prazer, guardado entre a vontade e a razão que sentem saudades sem sabe para onde vão. Deixe aqui seus sorrisos privados, guardados e esperados, para que quando não estiverem presentes, possam ser imaginados. De olhos fechados, viajamos sem para chegar lugar algum, mesmo que não seja aonde deveriamos estar. É confuso entender porque se perde se pra frente caminha, para ficar no mesmo lugar, não no mesmo momento nem com o mesmo olhar, mas muitas vezes, com o mesmo sentimento. Esperar causa o mesmo efeito, pois é tudo ao redor que se move, não apenas os pés, mas nossas memórias e momentos. Simplesmente desaparecem se existe a vontade de assim ser ou pelo puro descaso com cuidado que se deveria ter. Momentâneas chamas de vida dançando como velas ao vento do tempo, se apagando a cada sopro até que sobre apenas o que tenha de sobrar. Fica no meu bolso para guardar, no meu cofre para proteger, vou dormir e no travesseiro, o coloco para sonhar, alimento e vejo crescer esse sorriso particular. Fica como na espera de sempre voltar, parte na incerteza do que quer sentir, mas sempre que possível retornar.

Sejam Então Ditas Palavras

Novas são essas palavras que lhes falam, pois sem motivos para existirem, se fazem presentes como o ar que lhes rodeia ou a tinta que lhes escreve. Nada mais motivado do que a alma sem razão para existir, sem motivo para saber ou sentido de sentir. Ela procura encantamento e razão a qualquer custa, mesmo que se perdendo na escuridão em busca de luz. Surge então a questão anterior, pois palavras, mesmo ditas, são surpresas mal ouvidas de encontros anteriores. Nada sei do que me guia, sei apenas da fantasia que um dia pode ser. Deseja-se então o querer a fantasia, onde não são apenas desenhos pois palavras não são nada até serem ditas. Proferidas como fantasmas da alegria ou vontade inesperada, a palavra muda sentidos e intenções. Diz-me então que queres dessa alma letrada, pois a mesma procura descanso, sem deitar ou destino certo. Tendo então que nada existe de certo, a significância da certeza tem então a incerteza presente na existência certa. Apesar da hora aparentar tal continuidade, tenho então a certeza, mesmo que pífia seja, que ainda presente se apresenta na palavra passada. Que então sejam ditas, trovadas e lácrimadas, revoltas e discutidas sem dúvidas ou respostas. Enebriadas as vontades, pois alí encontram o conforto, solta das amarras esse uivo preso pela madrugada demorada e liberta a voz. Logo após, que descansem então minhas letras, pois combinadas e sortidas, se fazem ditas e amadas. Sejam então acolhidas essas palavras descritas e queridas, mil vezes ditas e mesmo assim, inesperadas.

Sem Parada, Sem Destino...

Deveria perguntar a cegueira como se pode deixar de ver. Cada passo dado leva para o outro lado, e sempre existem mais lados para serem atravessados. Não existem razões para descansar, seguir em frente até não mais aguentar e mesmo assim, levantar e continuar. Nada para esse trem, sem parada ou destino, segue cheio de um vazio que tem hora marcada para lugar algum. Desgovernado e renegado pelo fato de achar que poderia ter a escolha de onde chegar. Não importam mais os trilhos ou desvios, o que faz a diferença é quem esta no controle. O beijo que agora sai da boca é de despedida, não existem mais passagens para se comprar. Partiu novamente de lugar algum para nunca chegar, rodeando um infinito de constantes inconsistências que a vida proporciona quando quer. Diante da fraqueza do ser, encontramos a razão de viver, diminuir, quase parar. O motivo do coração bater forte, querer sem sorte se acalmar é a mesma razão que é capaz de fazer o trem descarrilar. Basta o sorriso que combina com o beijo recebido, aguardando o caminho a ser aberto e o destino a ser seguido. Agora acompanhado, pergunto onde posso pisar e então vejo, mesmo cego a forma de enxergar. Não se pode depender de tudo, mas para muitos, sem sentimento puro, não existe motivo para parar.

Canto Frio


Vão-se os lábios esquecendo a saudade, essa que perdura sobre a mente e o canto mais frio da cama. O que resta são imagens congeladas que apesar de silenciosas, levam as mãos ao peito. O olhar fixado na porta, esperando o único minuto que importa, o retorno. Sem mais suportar, vai até a beira-mar, olhar o encontro do céu e mar e esperar no vazio que rodeia. Areia entre os dedos, vento salgado e nada mais do que o horizonte. Perdido distante, onde mensagens não alcançam por não precisarem chegar, está à deriva esperando vento forte ou onda favorável na direção do encontro aguardado. Entretanto, a demora é necessária, para mostrar a importância e entender que não existem dúvidas quando desapontar no canto de olho, seguindo a trilha para o porto. Existem apenas as certezas dos braços, enrolados e recheados de maresia e sol. Beijos ressecados, se banham nos lábios saudosos em sentimento aflorado pela falta de tempo e o tempo de falta. O mundo ao redor espera por isso, pelo reencontro desse desejo, do encontro desse destino com a felicidade. Fiados então estão os caminhos de duas linhas em paralelo, que hoje se entrelaçam mesmo que no adverso que venha a surgir. Esse é o caminho, sem "mas" nem menos, que segue ausente da motivação de fim.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Blogger Templates by Blog Forum

http://meublogtemconteudo.blogspot.com/