A Chuva Apaga a Letra

A chuva escreve cada gota como uma letra, cada raio uma rima, cada trovão uma certeza. Descreve tudo, cada pedaço molhado do todo, cada pingar e seu barulho. Tem diálogo, momentos altos e baixos, lentos e rápidos, fala com o que toca, o que beija e se apaixona, fala do encontro da areia com a água do mar, do sol que não clareia enquanto estiver lá. Conta história, relembra dilúvios, conta defeitos e se entrega ao chão, ao tempo e ao vento. Faz poesia, rima tudo com fantasia e se deixa rimar, fala do beijo molhado, do riso infantil, da solidão, passageira ou não, das gotas tristes que caem. É romancista, conta os encontros inesperados, escondidos e guardados pelo que guarda a própria chuva. Conta da vida desnuda da vontade desenfreada que encontra na água um motivo para se entregar. Comediante, que se faz derrapar e cheia de sorrisos, no atraso do dia, molha quem quer e não quer se molhar. É assustadora, com seus barulhos cortantes e sua luz ofuscante, intimidando quem se deixar. Ela é fantasia, magia e pureza, sonho de uma natureza que se entrega as letras não ditas, palavras apagadas e levadas para onde quer que vá.

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