Interpretando Lágrimas

Um caminho molhado no rosto antes de deixar o gosto salgado na boca e necessita que seja enxugado como se fosse possível dessa forma esquecer a motivação para tal explosão sentimental. Na saudade, sentimos cada segundo como se fosse mais uma gota num copo prestes a transbordar, onde a sede da vontade demora a saciar. Na perda, uma represa, que se quebra devagar no aguardo do momento, sem esperança de que venha algum dia a mudar, se nega de ver e apenas espera a hora de se deixar inundar. Com a felicidade, uma cachoeira, percorrendo um caminho longo até chegar numa maravilhosa surpresa, depois de altos e baixos, uma vista gloriosa do que virá. No amor, lágrima é certeza como chuva, sabe que vem, mas não quando vai chegar, pode até esperar, imaginar o dia, temer o resultado e sempre desejar um dia claro brilhar, mas como toda fantasia, a realidade não sabe esperar. Procura então um abrigo, talvez dessa forma possa escapar, mas não demora para que chegue a hora onde todo o seu mundo esta a lacrimejar, ainda esta chuvendo e não importa quantas vezes o sol um dia veio a radiar, você vai se molhar, pode ser uma gota apenas, nada que com o tempo não venha a passar, mas fugir da tristeza com medo da incerteza é mesmo que não amar por medo de se molhar.

Carta Sem Destino

Prometi escrever quando soubesse o que dizer, as palavras que me fugiam, ainda que distantes, não me deixaram esquecer. Numa noite de sono, senti sua mão acariciar meu rosto novamente, segura minha mão fortemente e me guiar por entre um mar de gente até um lugar para nós dois. Nunca mais te esqueci depois do momento onde o real virou fantasia, como se naquele dia tivesse encontrado o verdadeiro ar da vida, pois antes sufocava na minha própria apatia e a alma virou poesia onde antes nada existia. Desde então comecei a imaginar todo novo dia como uma oportunidade de demonstrar como poderia ser maior do que alegria que o dia que passou me deixou te dar. Sentado aqui nessa mesa, debruçado no papel e caneta não posso esquecer a tristeza que deixei ao te deixar. Imaginávamos viagens fantásticas onde percorríamos montanhas desconhecidas procurando sonhos e imaginações antigas. Queria ter forças para me assegurar que no final desse caminho longo, poderei encontrar sua mão novamente, te levar para onde quer que amanhã vou estar. A verdade é que nunca foi importante apenas o lugar, mas com quem quero dividir o momento de estar, as emoções do sentir, do querer, desejar e quando o momento acabar, olhar nos seus olhos e saber que é sempre ali onde vou me encontrar.

Deficiência Sentimental

Fome de amar, sede de sentir, vontade de correr sem um lugar determinado, um destino traçado ou um plano definido. Caminhando fora da linha, sentindo o peso de cada passo, o vento forte vindo na contra-mão dos abraços esperançosos. As mãos tateiam como se cego fosse, procurando as definições do mundo que o cerca, querendo fazer sentindo de tudo aquilo que os olhos não conseguem admirar. Entrega-se a existência da vontade sem entender a motivação e tropeça em cada degrau estendendo as mãos a solidão. Difícil entender a sí mesmo quando não consegue se enxergar, acha necessário imaginar e ter a esperança de que talvez seja aquele o lugar onde deve se apoiar e vê a mão estendida ao seu lado, tentando ajudar. Quer chegar onde sempre achou que deveria estar e sem perceber a razão do querer se perde ao alcançar. O prêmio se torna derrota, o caminho que era uma conquista vira perda de tempo e o troféu que deveria ser vitória, se transforma em arrependimento. As luzes são acesas, a estrada é iluminada e ao contemplar toda a jornada, descobre que não saiu do lugar, então olha para frente, a procura de um novo caminho e antes de tudo recomeçar, apaga as luzes e estende as mãos a procurar.

Contador de Histórias


O toque dos dedos na página virada que atende a pedidos e sonhos onde não existe apenas uma frase, mas uma vida inteira que faz e desfaz com pela simples vontade. Cada momento dependendo de tudo, do beijo traido, da paixão reprimida, do grande amor perdido no último dia de vida. Vivendo cada momento vive o contador de histórias, que com dedos nervosos e palavras esperançosas aguarda a salvação. Envolve-se com a trama e sem razão, tem medo do "sim" e do "não". Deseja alí o repouso da realidade, onde a fuga do normal fosse mais do que necessidade, uma motivação para viver. Sente a dor da despedida, o sorriso do reencontro e quer reler para novamente poder sentir o mesmo pesar, a mesma alegria. A história se faz deliciosamente errática, numa constante descontrução do ser e querer que engrandece as verdades encontradas nas mentiras contadas e nas fábulas imaginadas. Em cada luar é possível encontrar um desses sonhadores, que em busca do destino sente cada momento do que é viver num dia que era uma vez.

Sincronicidade


Suspiros de uma saudade indefinida e mesmo assim sorrir em meio a lágrimas carregadas pela tristeza do lembrar e a certeza do esquecer. Amanhece nas cinzas do passado, em memórias do que aconteceu e que não se deixam escapar. Um beijo qualquer reforça outra vez a lembrança, a vontade da carne que retorna com o pecado e se faz necessário mais uma vez. Distante esta a memória, novamente sonhando sem razão, em meio a solidão,  o querer do momento. Os olhos se encontram, querem ver mais de perto e cada vez que se aproximam, se fecham e se entregam aos lábios, como uma continuação do olhar. Cada sentimento segue uma sincronicidade, sem saber da saudade se lembra que quer o sabor. Por causa de uma palavra , encontra a razão da lágrima e o seu valor. Outro suspiro gasto em meio a solidão, esperando a respiração que um dia ofegou ali ao lado. O mundo grita pela presença do que falta, sem palavras ou respostas, se perdendo no acaso.

Sombras da Noite


A curva distorce a noite com um leve brilho de intensões maliciosas, se faz delinear o desejo como cada momento estivesse a espera da mão cega que procura entender o que não é capaz de ver. O movimento muda e se perde nas ondas do caminhar, circulando a cama que chama e clama na espera do quanto mais for possível e até onde for permitido se entregar. A sombra brinca, se faz de mar em idas e vindas, num  mergulhar se perde no sentir do suor, entre os sons e sabores do querer da boca e suas cores, amantes da lua e suas flores, emaranhado desejado por cada segundo até então passado. O beijo se envolve com a carne, o corpo se dissolve entre os lençois, não mais se respira, nada se pensa. Os dedos demonstram seus desejos, deflorando exitações, libertando as mais libertinas sensações. O mundo se expande e por um instante se desfaz num grito carnal, irracional e sem igual, na entrega total de duas sombras da noite.

O Andarilho


Cantos e passos, caminhos traçados entre-laços, de fatos e sonhos em pedaços, remendos de passados onde se é esquecido antes de se esquecer. Caminha assim o andarilho, o tolo, o herói que ganha ao perder e se entrega antes da batalha começar, pois é na entrega que podemos ver os dois lados da luta sem perder a guerra. Escolha se torna liberdade e ao tornar-se livre, o caminho se abrange mais do que uma estrada e se tranforma numa avalanche e de qualquer forma, sem saber o instante, o que estava distante é entregue nas suas mãos. Começamos do nada, do zero, sem saber ao certo o que é certo e sem certeza de acertar, ganhar sem saber o que se ganha e perder sem notar, o que importa é o caminho para aquele que só pensa em caminhar. Esse sim é o destino, destinado a ser difícil, mesmo que não se saiba onde ir ou para qual lugar. Enfim o tempo se desfaz e a cada pegada mais uma página virada a caminho de onde nem se sabe chegar.

Simplicidades


Nada se fala do que queremos ouvir nem daquilo que nos faz querer. Apenas silêncio na simplicidade da magoa e naquilo que ela nos faz esquecer. Imagens imaginadas, refletidas, coloridas, retidas e desejadas pela fantasia que transforma a realidade em algo pelo qual se quer mais. O beijo, o toque sem jeito no momento perfeito que para o tempo e faz do dia algo eterno demais para durar. Não fomos feitos para sentir eternidade, apenas se sonha e espera pelo que não se conhece, pelo amanhã do dia seguinte, pelo sol que nasce distante e novamente se deixa passar, dando lugar a noite estelar. Só queremos mais tempo para não deixar o tempo simplesmente passar. Tentar entender e aprender o que precisamos para que não seja tarde demais. As folhas mortas no chão, fazendo o caminho dessa solidão, nos mostra a simples razão de querer mais sempre que possível for, de sobreviver além da dor e simplesmente viver.

Nada Mudou, Tudo Esta Diferente


Inspirado na solidão, encontrando a razão no mais simples caminhar, sem olhar para trás, sem pensar demais, sem saber onde ir nem onde ficar. Depois de um tempo o tempo muda, mas nada muda sem querer mudar. Os dias são dias e nada mais, apenas motivos para despertar, as noites estreladas se apagam no vazio do céu e do mar, novamente despertos pelo sol. Nada mais de estrela guia, nem saudade, nem lembrança, nada mais de ser criança e de brincar. Tudo que quer é a motivação de ir e voltar, saber que a partida foi dura, mas a realidade é muito mais difícil de se lidar. Nada mudou, tudo esta no mesmo lugar, mas tudo esta diferente quando se olha profundamente com um novo olhar. Quer sair mais do que o que era e se aventurar, mas quer ser responsável pelo seu tempo e nesse tempo poder viver e sonhar, mas não ao mesmo tempo.

D'água


No outro lado, o mundo feito um aquário, sem saber onde olhar, sem tocar ou suportar essa falta belle que me faz essa vontade louca de mergulhar, partir para o mundo conhecido. A razão ficou para trás, agora é apenas a coragem que mantem a verdade do final, do finalmente ancorar e buscar o novo horizonte, onde quer que ele esteja. Nada mais é certeza, o tempo que passa é mais do que o possível e nada mais do que o impossível, mesmo que a possibilidade esteja se aproximando. O que se perde tem de ser menos do que ganho, se não, não vale tudo isso. Domar o grito selvagem que percorre corpo e alma saber o que é capaz e como ser mais do que além. Do outro lado existe uma verdade e é nela que se encontra o verdadeiro destino, o caminho a alcançar e o resultado das privações e marasmos dessa longa caminhada.

Azul Infinito


Um azul sem fim, destinado a levar para todos os lados os pedidos e lembranças, as vontades fantasiosas de criança e as esperanças de um tempo sem tempo, sem memória nem história onde os dias passam devagar. Encontra um vento, desperta as velas e leva para longe e sem pressa tudo que pode, cada coração que explode sem saber onde começa ou termina, nem sabe onde chegar. Deita nesse azul claro, olha para o céu e por um albatroz ser levado, dentre nuvens de chuva e vento rasgante, por um instante nada parece mudar. E na escuridão do mar, posso ver cada ponto estelar, onde novas vidas aportam, vão e voltam até onde devem chegar.
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