Dia Sem Sol


A luz me aparece fraquejando entre as nuvens que escurecem o céu da manhã. Nasce um dia sem sol, acordando sem abrir os olhos, pedindo mais noite do que dia pode ter. Constante esse querer, que deixa vontade de dominar o tempo e negar o calor. O corpo parece cansar, esfriar, querer mais contato, esperar abraço e lembrar de beijos passados. Quer se envolver no sexo, transbordar de desejo numa mistura onde o que existe entre os dois corpos nus são apenas pingos de chuva e suor da pele. A tarde padece, o sol se esquece e novamente surge a lua, num dia sem dia vem a noite, trazendo sorridente uma vontade envolvente de ter mais o que envolver. Uma harmonia até novo padecer, onde em sonhos se vive e em saudades se deixa levar. Os dias mudam, alguns sem o brilho do sol, noutros falta a magia da lua, nada disso importa agora sem a boca tua. Ela que cala a boca e os sentidos, que envolve e preenche esse querer. Mesmo que a manhã chegue iluminada, não haverá luz sem essa chama que nunca apaga, que domina e arrasta tudo por onde passa e que em mim se faz de graça, dona do meu viver.

Passo a Passo


Num momento de distração qualquer, sem possibilidade de reação é possível sentir desarmar, desmantelar e desiludir. Deixa nua e fria a verdade, crua e simples a vontade de ter mais do que se pode, de querer mais do que se deve. Passa leve, sem notar ou querer ser notado, sem saber ou tentar ser entendido, passa sorrindo e deixando sorriso passageiro. Leva toda carência e atenção, sonho e aversão, leva tudo que pode levar, mas fica na sua passagem a solidão. Não se engana nem se arrepende, olha nos olhos e de repente, sem arrependimento aparente, esquece de todo sentimento eminente e segue em frente esperando ser passageiro ou passagem. Não esquece nada a não ser as lembranças, que perduram maduras pela felicidade dos momentos onde tudo parecia ser estático, natural e certo, imutável. Fica preso entre as chamas e o oceano e se torna imortal no pensamento que vaguei em busca da ventura aparente. Ilusões rapidamente desfeitas pelos atos do real. Passando se vai sem pressa, sem falsa modéstia ou qualquer cerimonial. Passa porque não é ali o seu lugar, não é onde quer chegar e sabe que tem de continuar.

Dia e Noite, Real e Fantasia.


Senta ali sozinha, olhando o horizonte e esperando um novo dia. Nada muito diferente do normal, todo dia parece nascer igual e novamente o sol aparece iluminando o banal. Mais um dia que passa e nada mais parece ser o queria que fosse, um beijo, um carinho o calor do corpo. Tanta limitação se encontra na solidão, indiferente ao tempo ou opinião. Deseja novos desejos, mas procura caminhos diferentes nas mesmas estradas, nos mesmos anseios.

Senta ali sozinha, olhando o horizonte e esperando uma nova noite. Onde não existe pudor, o carnal dita palavras doces, mesmo feitas de fel. Precisa destruir qualquer vestígio desse vício de querer o que faz mal e novamente se deixa levar, esperando diferença no usual. Tantos rostos os sentimentos usam, tantas vontades de saber sem lembrar ou conhecer, escondendo novas descobertas ou insistindo nas tortuosas escolhas erradas.

Senta ali sozinha, olhando nos olhos e esperando uma fantasia. Espera que esteja presente dia após dia, inerente a qualquer mudança, como o sol no amanhecer ou a lua e o anoitecer. Quer aquilo que sempre quis, mas também quer diferente, quer tudo de novo, mas nada novamente. Se perde em sonhos que carregam em si um dia após o outro, insatisfeitos, tenebrosos, indecisos e ilimitados.

Senta ali, mas não sozinha, olha pra quem se permitiu olhar e finalmente esquece a hora, o tempo, a noite e o dia. Tem a verdade que faz esquecer sonho, o real que desfaz fantasia, tudo que queria e não sabia. Deixa-se esquecer das dores, das marcas que dias e noites deixaram no sentir. O tempo é apenas parte da memória do que um dia foi e que nunca foi assim, longe da dor e do fim.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Blogger Templates by Blog Forum

http://meublogtemconteudo.blogspot.com/