Entre o Céu e o Abismo

De alguma forma, olho para aqueles passos caminhados, desfeitos na distância do destino. De um lado seguiram-se as cores, do outro, desapareceu no preto e branco. Entre o céu e o abismo estão as escolhas necessárias e aquelas que fazemos com dúvidas e incertezas. Olhamos para o alto esperando não pisar no nada, mas caminhando em sua direção. Se perguntar, não darei razão, escolhas difíceis para confusas decisões, mas não tomá-las é um erro. Fugir é apenas correr mais rápido a perdição. Ignorar parece ser a escolha mais procurada e a que menos nos ajuda. Então perdemos e novamente esquecemos, faltamos na vida, por nos faltar tanto. Procuramos nos lugares mais perdidos, uma explicação que aparenta ser exata, sem falhas, sem erro. Erramos na procura da certeza e em negar sua existência. Circulamos a vida esquecendo por completo qualquer indício de dores passadas, marcadas como um mapa do que foi viver. Novamente paramos na beira da mais profunda queda, olhando para as nuvens e desejando naquele lugar, dentre tantos outros, que venha uma ponte nos ajudar na travessia.

Desbravador

Nesse lugar sem razão de ser, no tempo passado e agora, indeciso. Não culpo nem nego esse motivo. Sonho sempre que posso, imagino sempre que permito, mas o beijo, não tenho quando quero. Essas ruas cheias de pessoas e água, rostos molhados e bronzeados de chuva e mar. Nada afeta onde estou, se não estiver lá. Velejando nesse barco sem rumo, que navega desnudo de rota e vontade, necessitado de luz e porto, abrigo e segurança. Entre palavras e ondas, as correntezas e os desejos, num lugar bem no meio, onde não quero estar. Parado no tempo pelo vento, antes tempestade diante da solidão de vagar. E quando passa, esse vento que vem do mar não é lembrança e sim saudade. Na procura da felicidade, não preciso de cartas de marear, por que qualquer desbravador sabe, que o difícil é o desconhecido, mas o desejo maior é retornar. Então deixo que esse oceano me leve, assim como o destino que carrega qualquer vontade que se possa desejar. Escolho sentimento antes mesmo da indecisão. Entenda essa contenda entre onde estou e para onde vou, mas não pense que sou assim. Antes mesmo de sair, o viajante olha para trás e vê seu mundo mudar sem ele, partindo mesmo assim. Talvez seja egoísmo, mas levo esse todo dentro de mim. Saber que quando voltar, não precisei esperar, nem dor ou vontade. Sei que lá esteve, perdida comigo, nessa viagem sem fim.

Meus Motivos

Posso me perder em razões racionalizadas por momentos solitários onde o entendimento é mais bem vindo e a motivação é a clareza da imaginação e da vontade. Tenho motivos porém o porque evitar tal forma de pensar, tão linear e certa. Vontade carregada de laços, ligando diretamente o sonho ao coração. Nada melhor do que a motivação no aguardo do encontro. Ver no rosto um buquê de sorrisos abertos, abraços colados que tornam a respiração em uma só para os dois. Meus motivos partem da vontade de ter e querer, nunca ser e sempre mudar. Quero ser o motivo, beber do seu vício, saber o que acha dessa viagem que é viver. Entender por que a luz tem ciúmes do teu despertar e prazer em te tocar, brilhando mais forte do que em qualquer lugar. Ter beijos perfeitos que demorem até as estrelas se apagarem no vazio. Razões sem palavras, emotivas e complexas, mas basta um discreto pensamento, num olhar passageiro numa hora sem motivo de existir, para saber que não adiante evitar, acreditar que não viu, pois estará com você e com você ficará.

Longe

Estava ali, no caminho, achando qualquer motivo para ficar. Não sei mais o que dizer, não penso mais em falar. Imagino por querer e quero por precisar. Essa vontade nua não deixa negar essa selvagem doçura no olhar, mas longe. Não deixa ser transportada para qualquer lugar, mesmo quando penso que deveria. Imagine poder simplesmente se entregar. Fica distante, consumindo a lembrança de um beijo noturno de um momento sozinho de nós dois. Segredos amordaçados pela insegurança, ou talvez o medo de não saber da certeza. Escravos da natureza, vontade principal da incerteza é de agir mesmo quando o sentido não seja sentimento. Entrego o dia ao momento, lanço vôo e caio ao mesmo tempo. Assim me vou entre o tempo e o vento, acalentado por devaneios, distrações levianas do desejo. Querer sem ter, deixar sem poder, sonhar sem saber por que. O sonho só faz o que quer, imagina o que pode e se perde quando desapercebido do que realmente deveria sonhar.

A Chuva Apaga a Letra

A chuva escreve cada gota como uma letra, cada raio uma rima, cada trovão uma certeza. Descreve tudo, cada pedaço molhado do todo, cada pingar e seu barulho. Tem diálogo, momentos altos e baixos, lentos e rápidos, fala com o que toca, o que beija e se apaixona, fala do encontro da areia com a água do mar, do sol que não clareia enquanto estiver lá. Conta história, relembra dilúvios, conta defeitos e se entrega ao chão, ao tempo e ao vento. Faz poesia, rima tudo com fantasia e se deixa rimar, fala do beijo molhado, do riso infantil, da solidão, passageira ou não, das gotas tristes que caem. É romancista, conta os encontros inesperados, escondidos e guardados pelo que guarda a própria chuva. Conta da vida desnuda da vontade desenfreada que encontra na água um motivo para se entregar. Comediante, que se faz derrapar e cheia de sorrisos, no atraso do dia, molha quem quer e não quer se molhar. É assustadora, com seus barulhos cortantes e sua luz ofuscante, intimidando quem se deixar. Ela é fantasia, magia e pureza, sonho de uma natureza que se entrega as letras não ditas, palavras apagadas e levadas para onde quer que vá.

Se Pudesse Ver a Dor

Uma sinfonia, essa vontade fria que envolve o coração. Se pudesse ver a dor, fecharia os olhos, cegaria essa vontade de saber. Iria preferir a ignorância, a ter a certeza de o seu aproximar. Ninguém quer ver a dor chegar, não quer saber como é ou como veio nem como sente nem como dói. Mesmo assim ela chega invisível, de surpresa, se enrola como cobra na pureza de qualquer coração romantizado pela beleza do gostar. Não chega de uma vez, mas difícil não chegar. Às vezes, vai embora e deixa apenas aquela lembrança passageira de quando um dia deixou de sonhar. Nem sempre, mas em outros momentos, o sentimento mesmo de olhos abertos, se deixa entregar. Então ele chega, com calma e malícia, envolta nas intenções mais impuras e não deixa você entender. Consome de uma vez cada pensamento, do ódio ao ressentimento até que nunca mais se vai. Devora cada pedaço da esperança, cada parte das lembranças do que era ser feliz. Dessa forma, prefiro não ver a dor, a saber o que me aguarda.

Sutil Vontade

Deseja então que sua simplicidade seja oportuna e seu rosto uma marca lembrada e não tocada. Vista, mas não vivida. Paixão trabalhada, entregue ao nada, feito vapor. Assim me faz os gestos, nada mais do que restos dos instantes que vivi. Deixa claro o encanto entrelaçado nos lábios do beijo no canto escuro da noite. Seu tocar, recheado de pequenos movimentos que fazem a vontade se envergonhar. E mesmo assim se parte em dois pedaços, apesar de que sonhado, o real melhor está. Faz-se uma entrega vazia a uma lembrança de que um dia tinha alguém que não tem mais. Me vê como barco na aréia, passando noites sentindo as ondas, esperando o amanhã para navegar. Sutil vontade de ter o que não sabe ao certo querer. O problema é a escolha, nunca entende qual o caminho seguir. Existem assim apenas possibilidades, encontradas nos menores detalhes, talvez no início do beijo ou no meio da paixão, sem sentido ou clareza. Desembaraços confusos, distraídos pela razão e o passado. Esqueço assim do que à de sagrado, minha sanidade.

A Procura de Momentos

Existem dias que duram uma vida inteira. Parecem estar suspensos nas nuvens de chuva ou banhados num dia de sol. O tempo para por uma existência e pensamos que apenas aquele dia passou. Vivemos então em busca do beijo que faz o bater das asas pararem, os carros desligarem e até o respirar não existir. Momentos em que nenhum minuto é triste. Sorrir sem pensar estar sorrindo. Abraçar por que essa é a única vontade que faz sentido agora. Somos máquinas fabricantes de emoções sem destino. Somos um barco sem lême, deixando que o mar nos ensine o caminho. Essa entrega é a procura dos nossos momentos definitivos. Onde não há nada mais, não se fala em caminho, só a pura motivação de existir. Então é apenas a pele, o calor, o suor e a vontade. O sentido de tudo num segundo profundo, que acaba deixando tudo que sabe como pequenas certezas acanhadas. Olham pra mim sorridentes, pedindo um beijo, a procura de momentos como esse.

Dualidade do Beijo

Os caminhos destinados sempre andam para dois lados. Um segue as cegas do outro. Te diz tudo onde o outro é mudo. Imagina o bem que tudo tem, enquanto o outro só sabe o que de mal tem no mundo. Somos dois lados de cada centavo descuidado, girando sem parar, até ser parado. Somos roubados da sorte pelo nosso caminho traçado. Para direita, talvez esquerda, um ou outro lado. Nunca sabe a certeza, não se pode ter vontade. Espera o caminho certo de cada felicidade. Somos a noite correndo do dia correndo da noite. Medo que segue curiosidade, estamos longe do que queremos, mas o que precisamos, temos e não sabemos. O abraço da saudade, não conhece o outro lado? Somos a falta que nos falta na verdade. O beijo e sua dualidade, não sabe ao certo que caminho é verdade. Se entrega o coração a toda essa paixão, ou vive na dúvida, cai de uma vez ou se segura. Essa alma pura e suja, essa vida de duas vias. Talvez seja a sua ou a minha.
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