O Barqueiro

Água escura do rio move lentamente para lugar nenhum. Os sons torturados emanam a dor sem vida, tentam me negar jornada. Nada importa a não ser o destino, seja qual for. A barcaça se aproxima, uma mão pede o dízimo da travessia, sem esperar minhas razões. Pago o que devo, mas espero paciência para que ouça explicação. Em vida estava no barco da lamentação. A travessia acompanhada de tristeza e solidão. Na voz murmurada do barqueiro, cântico a Eurídice. Conto então da felicidade, momentos e lugares de amor. De forma lamentosa, ele aponta sem hesitar o rio da dor. Falo das lembranças e palavras, vontades e planos, sorrisos perfeitos. Ele aponta na decida o rio, o caminho procurado para quem quer esquecer. Lamento então o dia negado, do sol apagado e do silêncio. O rosto frio aponta sutil o rio gelado da negação. Cansado, virando o barco, negando minha peregrinação. Conto-lhe da esperança, da incerteza da vida e de toda indecisão. Talvez por só ver a certeza da morte, nunca tenha entendido a canção. Orfeu não parou para explicar que na melodia, nada mais existia a não ser o amor que oferecia, sem ele não era herói, história ou fantasia. Sem o caminho da morte, não poderia entender a vida. Segui caminho pelo rio da melancolia.

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