O Mundo Desfaz o Mundo...

Entregue aos caprichos das próprias invenções. Arriscando cada vício, nas melhores das intenções. Desejando cada início sem um fim. Arquiteto da própria decadência. Trilhando caminho às cegas. Derrubando, gritando, sangrando e chorando. Uma explosão interminável que se aproxima oportunamente do mais volátil. Encarando cada dor ao seu redor como efeito colateral da felicidade. Ignorando o fato e seguindo o risco de encontro à imaginação. Nada importa mais do que o momento. Não faz sentido sem o próximo dia. Solidão vazia. Baixa a guarda, esquece a fantasia. A solução é simples. Esquecer do mundo e o mesmo virá ao seu encontro. Apagar da memória a constante demora em tudo. Nada mais envolta. O coração a pulsar nas mãos. O breu mutável dos olhos fechados. Respiração relembrada a cada inspirar. E o mundo se desfazendo ao redor do próprio mundo.

Ela Se Foi

Sem contar todas as histórias. Momentos que não cheguei a ver, viver. Segredos de família, sussurrus e estórias. Nela encontrava problemas e soluções, defeitos e culpas, mas acertos e correções. Já foi santa e safada. Afobada e calma. Era doce azeda. Era vida como ninguém que conheço. Resistiu a tudo, até filho enterrou, alguns tomaram caminhos, outros sem rumo ficaram, muitos trouxeram dor. Melhor estar com Deus, se dele, de encontro for. Chorei como sempre choro, sem lágrimas, sem cor. Te vi ali deitada, flores ao seu redor. Vergonha que eu tive, nervoso como estava de te ver tanto depois. Tão longe estava e assim ficava até este momento. Agora, em pé ao seu lado, nada mais a ser dito ou contado, nem segredos quaisquer. O fim por que ela se foi. Eu nada posso mais saber do que foi ela viver.

No Meio...

Esta no meio das coisas,
Das flores, das folhas,
De cheiros e beijos,
Abraços, desejos,
No meio dos seios,
No meio das coxas,
Entre o nariz e o queixo,
No meio da ostra,
No meio do medo,
Entre nada e alguma coisa,
No meio do sono,
Do sonho,
Da noite,
Na meia-noite,
No medo do meio,
Da vida ao meio,
Do segredo,
Da meia falta que traz,
Da meia volta que faz,
A meio mundo,
Em meio tempo,
Ao meio-dia,
Nem metade sou.

Motivado

Consegui alcançar o que buscava,
Quando não tive o que queria,
Agora não sei o que motivava,
Ignorante hipocresia,

Em cada passo falso,
Um passo em falso,
Em cada sol nascer,
Outro a se pôr,
Em cada sombra sua,
Uma minha,
E cada esquecimento,
Lembra cor,

Vem meu desequilíbrio,
Desequilibrar,
Vem e me deixa tombando,
Tombado, a tombar,
Sei que me levanto,
Levantar.

Efeitos e 6 graus

A mesa treme. Os sons do constante movimento, envolvendo o mundo por todos os lados. Estamos ligados por efeitos borboleta e 6 graus de separação. Sinto-me preso num emaranhado de linhas que me ligam a pessoas que se ligam a outras. Esse mundo pequeno me enrola na sua constante amolação. Dentre tudo e entre todos. Somos ligados involuntariamente por todos os lados com todas as coisas. E não sentimos ligação alguma. Queremos encontrar tais caminhos que se cruzam, mas a ilusão nos deixa esquecer e a decepção nos cansa. Então erguemos a cabeça e vivemos. Melhor viver do que esperar morrer. Somos melhores por lidarmos com problemas e mesmo sem resolução, seguir enfrente, ao próximo.
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